em relinchos, francielly baliana cavalga infinita e nua no chão (des)conhecido da poesia. íntegra, onírica, ela mesma auxílio “a mulher que comeu papéis” e todos os mortos que mesmo vivos já são as cinzas das letras que regurgita rumina vomita.
são tantos os loa montados no/através do cavalo da poeta que se funde e se/nos confunde bolaño diamela rulfo derrida kamenszain a mãe a mãe a mãe de todos os poetas latinoamericanos. vozes estrangeiras, vozes animais, vozes “a que demos o nome / ao menos aqui / de medo da morte”
temos a impressão de ler sonhos. de sermos parte de um – mais de um, muito mais de um, apenas um – sonho sonhado pela poeta num livro mergulhado em alta concentração de noradrenalina. na coerência não-linear dos afetos, francielly se deixa alucinar e nos alucina no cacto do tempo, do seu tempo, do próprio tempo:
“não d u v i d ar do sono” (repita: “não d u v i d ar do sono”). cães cavalos gatos morangos bicho pantera serpente “o animal é o humano” então “então acredite / quando um animal te disser / aquilo que você esqueceu / como entender”.
é que quando a gente morre os neurônios continuam funcionando. o coração já não bate, e sem oxigênio o tempo se alonga. francielly visita sua coleção de memórias infinitamente. somos parte dela, memória de futuro. andamos por sonhos dentro de sonhos.
é que quando o tempo resiste à morte, sonho a sonho as representações vão ficando mais abstratas, mais fluidas, mais ocas, menos fiéis, como no horizonte um “navio inexistente”. ou relinchos se tornando sussurros: “minha mãe minha mulher minha filha morreu / sou do tamanho de uma voz abafada”. é tudo segredo
que ainda ecoa na fotografia da contracapa: “veja e se assuste comigo”. então fecha os olhos agora, descansa, sonha a poeta metade cavalo metade cavala, mergulha no vão e ou/vê: “meus silêncios / escute / falam por mim”.
Geruza Zelnys