A feitura de Cavalos Sonâmbulos foi lenta.
Foram mais de dez anos de produção, que germinaram numa poesia firme e concisa, na qual Márcio Costa retrata um cotidiano maçante e opressor que, ao mesmo tempo, não impede o sentir, a fissura e o fazer poético, com suas faces de amor, ódio, morte e vida.
Assim, se o autor caminha lugares como: “A noite é cruel/ com os solitários./ Os movimentos cessam,/ o amor artificial/ escorreu entre as pernas”, ele também traz profecias de futuros possíveis: “Um amor que faça/ imaginar o futuro,/ que nos ponha a escrever/ cartas e e-mails do que será”.
Esse movimento entre luz e sombra, dormência e energia, aproxima essa poesia da vida. Amalgamado sob a lua e o sol do Acre, Cavalos Sonâmbulos é um livro de chaves, camadas e desdobramentos, ou seja, é daquelas obras que dão vontade de escrever. De lançar um olhar poético ao que nos cerca. E talvez por isso, mostre-se tão necessária.
Um livro-corpo denso e esfumaçado que, se por vezes beira os abismos, também nos recorda de que: “Todos os segredos/ do mundo num só corpo”.
Eduardo Guimarães