O que se escuta de um canto? A sonoridade dos contos aqui cantados nos ensina a ler com a pele, por uma pele. O corpo que se apresenta sob a forma deste livro saboreia os sulcos de si com a voracidade de ser presa e predador no mesmo ato. Juliana incorpora nessas páginas um devir-feiticeira que sabe que arrancar as máscaras da normalidade não se reduz à nudez selvagem da loucura, do silêncio, do suicídio; mas é também oportunidade de criação, de vida.
Ler esses textos é colocar o ouvido na pele rala do papel, fazer do próprio ouvido a pele. Sentir pulsar a legião de gargantas que a autora faz pegarem no tranco ao convocar ao palco sua própria voz por meio desses contos.
Juliana convoca as Cidinhas, os Andrés, as Lauras e os Martins: catadoras, pescadores, pessoas. Todos, de certo modo, atravessados pelo ridículo: para onde são mandados os que insistem em se mostrar para além dos papéis oficiais. Todos sendo constantemente devorados pelas homogeneizações.
A voz de Juliana se dilui e se transmuta em vozes diversas. Fazendo de sua pele um co(u)ro que ecoa. A autora canta pelas vozes menores, pelas histórias apagadas. E, ao habitar essa minoridade, torna esses cantos audíveis.
O que se escuta de um canto, aqui, é o canto porvir de toda pele que se afirma.
Maria Eduarda Checa