A poesia de Julia se entranha com a natureza. Suas páginas partem da primavera ao inverno, porém, sua jornada segue em um autorretrato, um novo ciclo após o mais frios dos períodos. Um tempo que possui a clareza de agora, encarado feito afeto.
Devagar o tempo
Esfria na língua
O amargo do chá
Os haicais exigem um olhar. Parece tão contrassenso entre computadores em punho – um apito constante que conclama – estar atento ao mundo real, estabelecer seu próprio tempo de permanência no momento. Dar-se o direito de ver e recortar a vida que nos cerca e estabelecer essa visão em linguagem. Ver o que importa, estacionar e atravessar a rua.
Na calma
Fugidia dos peixes
Capto instantes
O haicai irrompe a retina. Registra-se. Um olhar ao natural. Julia vê o que a natureza faz sem alarde e constrói em cada detalhe o sinônimo de sua tarde. Uma tentativa de expor o lírico ao corriqueiro.
Em um constante lidar com sons, vivencia a alvorada sendo vislumbrada pelo vento.
A tristeza
Densa como o vento
Também passa
Rodrigo Luiz P. Vianna